Na música Gospel as aparências não enganam

Por Antognoni Misael

Era uma noite bastante chuvosa quando eu minha esposa pegamos o carro e fomos até uma cidade que fica a 40 km de João Pessoa-PB. Nosso objetivo era visitar uma igreja que recebia o “Grupo Logos” como convidado especial naquele culto noturno. Já eram 20h00min quando cheguei naquela cidade, e perdido, sem saber onde se localizava o templo, entrava em ruas estreitas cheias de poças de lama, mal iluminadas, sem alcançar sucesso algum nessa procura. Já desacreditado, comecei a questionar: “(…) será que o Grupo Logos realmente viria pra essa cidade? Além do mais em um local esquisito, escuro, e sob chuva? Em uma pequena igreja e com a entrada franca”? Quando já pensava em fazer a volta e retornar pra casa, escutei uma canção que soava baixinho e dizia: “Quando Ele me chamou não fez promessas humanamente convincentes. Nada que me enchesse os olhos. Apenas disse que me faria um pescador”. No mesmo instante acelerei o carro e rapidinho encontrei àquela igreja. Era pequena, cheia de pessoas simples e humildes. Minha impressão foi a melhor possível. Vi tanta verdade naquele culto, tanto no semblante das pessoas da igreja quanto na postura humilde e serena do Grupo Logos – fiquei bastante admirado, pois, como ex-frequentador de shows gospel jamais tinha visto tanta falta de burocracia e marketing pra se cultuar juntos. Após o término, pude conversar com o Paulo Cear, Nilma e todos os músicos da banda, e perceber que as aparências não enganam. Ali estava um grupo com 30 anos de ministério que diariamente viaja pelo Brasil inteiro em um ônibus simples, levando a mensagem de Cristo através da música, se misturando com as pessoas comuns, compartilhando do amor de Jesus em todo tipo de lugar, cidade, Estado.


Gente, nesse dia fui ensinado profundamente. Percebi que assim como Cristo fazia: não fazendo acepção de pessoas, atendendo prontamente a quem se dirigia a Ele, sendo servo de todos, amando a todos, abraçando as pessoas com gestos de afeto, com calor humano, com simplicidade e atenção, assim aquele grupo o fazia também. Quão preciosos são os pés dos que anunciam as boas novas! Mas a grande lição que tirei diante do que vi naquela noite, é que pra ser um cantor, grupo ou ministério que serve a Deus, não precisa abraçar a vaidade, luxúria, estrelismo, exclusivismo. Infelizmente gente, é isso que tenho visto no mundo da música gospel. Logo eu penso que:


1) Pra servir a Deus através da música não preciso ser regido por uma lógica de mercado semelhante ao meio secular. Pois o “astro gospel” se posta como astro sagrado cheio de exigências: toalhas caríssimas, bons camarins, transportes sofisticados, hospedagens em hotéis de luxo, privacidade, entrevista com hora pré-marcada.


2) Pra servir a Deus através da música não preciso cultivar minha própria fama. Já o “astro gospel” para justificar sua notoriedade, contrata uma forte equipe de segurança que o protege de frenéticos fãs que se auto declaram adoradores – de quem?


3) Pra servir a Deus através da música, não preciso me basear em quantidade de espectadores. Já o “astro gospel” evita se apresentar em locais pequenos, igrejas, praças, escolas – quanto menor for o público, menor a notoriedade, e para se esquivar desse incômodo é fácil, basta cobrar um alto cachê.


4) Pra servir a Deus através da música não preciso vislumbrar minha própria prosperidade e ser um artista preso a regras de mercado. Para o “astro gospel”, tocar de graça nem pensar! Há não ser uma homenagem no Raul Gil, Faustão, aí sim, cai bem para o marketing. Pra cada show o valor é sempre altíssimo, visa cobrir as cláusulas contratuais e engordar a poupança.


5) Pra servir a Deus através da música não preciso ser quem eu não sou. O “astro gospel” costuma se vestir de uma capa de marketagem que vai de tratamentos de pele a novos hábitos no falar e no vestir, e tudo isso porque agora ele não mais se pertence, ele é um produto de investimento. Muitos, como simples fantoches, gravam canções compradas, professam testemunhos duvidosos e sem autonomia alguma, viajam pelo país fazendo shows que são, na verdade, vendas fechadas pela produção cujo resultado é bem mais comprometido com o lucro do investimento do que com as almas alcançadas.

Pois bem. Quando você se encontrar com um desses “astros gospel” e notar que existe nele boa parte do que mencionei aqui, não duvide! As aparências não enganam! Ele é isso mesmo que você vê! Chega de tanta mentira no meio dessa música gospel!

Os Evangélicos em Guarabira: da guerra fria a unção multipolar

Por Antognoni Misael

A história mostra que os primeiros evangélicos que aqui se organizaram foram os batistas, com um templo central próximo a antiga Telpa, em seguida os congregacionais e depois os assembleianos. A priori, a realidade daquela época não parecia muito com os dias de hoje; ser mais, ou menos crente, era um sinal constatado pelo tamanho da Bíblia que o irmão usava e pelas vestimentas esquisitas que o rebanho se vestia.

Testemunhas oculares contam que mesmo naquele tempo já havia alguns atos estranhos que me fez lembrar as esquisitices de hoje, tipo: subir ao monte para orar buscando estar mais perto de Deus, levando algum sacrifício para Ele; profecias de morte, de futuros casamentos, revelações sobre adultério; pessoas que entravam em transe, etc. Por motivos que desconheço, naquele tempo as representações passaram a não se bater, e duas dessas três denominações travaram o que chamo de período Bipolar na cidade (nesse fogo cruzado a pregação se resumia em “ou aceita Jesus ou vai para o inferno” – quem é desse tempo sabe que o muito que se foi pregado foi o evangelho da condenação, e não das Boas Novas). Se uma tinha “fogo demais”, a outra era fria que virava “gelo” – eu mesmo já presenciei isso dentro de minha família que era igualmente bipolar. Enfim, mesmo havendo algumas trocas de farpas, nada que gerasse um embate mais sério ocorreu, ficando consecutivamente cada um no seu quadrado.
De alguns anos prá cá, a cidade passou a ser alvo de implantação de igreja – e apesar de isso ser bom, claro, pois o Evangelho passou a ser mais propagado, em mim foi gerada certa desconfiança a ponto de questionar se o que vale a pena é a qualidade da semente ou sua quantidade avulsa jogada no solo dessa terra de garças azuis. Na verdade posso afirmar que em relação aos evangélicos, o panorama é hoje multipolar pois tem igrejas pra todos os gostos. Tem igreja de: fogo pra quem quer fogo, dom pra quem quer dom, bens pra quem quer bens, dinheiro pra quem quer dinheiro, cura pra quem quer cura, milagres para quem quer milagres… Enfim, meu medo é que as pessoas busquem somente as coisas de Deus e não o Deus das coisas, que não sejam consumidores de Deus, mas colaboradores do evangelho.

O que me entristece diante disso é saber que algumas igrejas foram implantadas sob pretexto de divisão. Existem algumas de mesma expressão denominacional, mas que não se entendem por questões banais ou de caprichos da liderança. E nesse caleidoscópio de templos e mais templos, já é comum ouvir boatos de que em tal igreja nova Deus está agindo grandemente, pois profecias, revelações, dons e bênçãos de curas e vitória financeira são vistas e liberadas em quase todos os cultos ali realizados. Então acontece o êxodo (não aquele de Moisés, claro, rs.), tooodoo mundo corre pra lá atrás do vaso na ânsia de receber o que está precisando.

É…não custa esperar pra ver que em alguns casos (não generalizo) restam no fim apenas pessoas feridas, decepcionadas e palhas do “fogo” espalhadas ao chão. Uma amiga confidente foi a um culto de uma determinada igreja na cidade e me deu a bizarra surpresa que existe um tal “profeta” que vê caixão, foice passando pelo meio da igreja, cova de cemitério no chão do templo, anjo, arcanjo, queda de cabelo, tumor, demônio em ventilador e tudo que se imaginar. É um salve-se quem puder! Dá pra acreditar nisso? O cara é um privilegiado, um homem de honra cheio do poder de Deus!
Ainda sobre as implantações de igrejas, noto que outras são meras invenções de quem se acha com o dom de liderar, pregar e por não se dedicar ao preparo ministerial e estudo da palavra, argumenta pra si mesmo que Deus lhe deu a “unção pastoral”. Ao que noto, muitos querem apenas o poder, o estar à frente, o “ser o maior”, e isso é muito sério porque contradiz os ensinamentos de Jesus: “Se alguém quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos” (Marcos 9.35), e aquele quer ser o maior seja o menor entre todos.
Como partícipe dessa história, oro pra que nós evangélicos voltemos para a Cruz de Cristo, e tendo Ele como ponto de encontro, levantemos a bandeira do evangelho cidade. Gente, Cristo deve ser o centro de tudo, Ele é suficiente! Chega de tanta gente entulhada em templos querendo somente consumir! Não adianta creditar essas pessoas de dom sobrenatual, quando a vida cotidiana não condiz com a unção que declara ter. Tô cansado de tanto falso véu! Quando digo que agora a coisa tá multipolar, é porque cada um faz do modo que quer, do modo que interpreta as escrituras, ou melhor, às vezes nem as lêem, apenas dizem que sentem algo diferente, e isso é um aviso de Deus! Eu lamento.
A cidade quer se envolver com todos nós e precisamos acreditar que de fato, Deus desceu do Céu, se fez homem, conviveu com os piores homens de seu tempo, sendo sal e luz para eles nos mostrando o Caminho do Amor incondicional! Viver o Evangelho é simples, é só imitar a Jesus.
Certo dia um grupo colocou uma faixa na rua que dizia: “Guarabira é do Senhor Jesus”! Aí eu digo: não é, e dependendo dos evangélicos, nunca será! Chega de visar as coisas grandes demais esquecendo da simplicidade da vida de Jesus! Chega de se achar melhores que os outros, e inclusive melhores do que aqueles que não professam a mesma fé! O fato de Deus habitar em quem o recebeu não é privilégio nem preferência, mas pura Graça!
Termino dizendo que diante dessa mistura de denominação, heresias e engeliquês da “unção”, ser crente no Brasil e na cidade não é fácil. Todas as vezes que eu me identificar como cristão será necessário, sempre, esclarecer sobre que tipo de cristão eu sou – isso porque não quero ser confundido com os “profetas” das unções esquisitas.

“Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir.” (Martinho Lutero)

Ana Paula Valadão, os piolhos e a glória de Deus debaixo do banco

Por Renato Vargens
Em primeiro lugar gostaria de afirmar que meu intuito não é denegrir a imagem da Ana Paula Valadão. Reconheço que muitas de suas canções foram e ainda são uma bênção para a igreja evangélica brasileira. Ressalto também que acredito que o desejo de seu coração seja servir ao Senhor , bem como adorá-lo com seus talentos e dons. Todavia, não posso deixar de questionar à luz das Escrituras Sagradas algumas de suas doutrinas e comportamentos, que de forma sorrateira e avassaladora tem desconstruido os valores do Reino.

Isto posto, gostaria de comentar um texto publicado no BLOG da Ana que segue abaixo na integra:

“Palavras não podem conter o que vivemos neste 12º Congresso! Abaixo, um testemunho de uma visão e confirmação do que Deus fez nesses dias. É de uma querida irmã. Veja:

“Oi minha linda irmã, que a graça, a paz, a unção e o amor do Pai sejam abundantes em sua vida. Estou te escrevendo para compartilhar um sonho e uma visão que tive e tem a ver com o 12º Congresso de Louvor. Há 6 meses sonhei que estava chegando na Lagoinha e havia um rebuliço na porta, porque o Pr. Márcio tinha mandado arrancar todos os bancos e colocado toda a equipe pastoral na porta com uma bacia de álcool gel e pente fino. E as pessoas que chegavam só podiam entrar no templo depois de deixar a equipe passar pente fino em suas cabeças. E só podiam entrar no templo depois de tirar os sapatos. Tudo isso porque o Senhor tinha dito ao Pr. Márcio que a Glória dEle estava debaixo dos bancos, que o povo estava sentado sobre a Glória de Deus. E ao passarmos o pente fino na cabeça das pessoas, saíam muitos piolhos, até da cabeça dos homens que estavam careca. Mas aqueles que deixavam, que obedeciam, tiravam os sapatos e entravam, não conseguiam ficar de pé, engatinhavam no templo, tamanha era a Glória de Deus ali. Então, o Senhor me falou em Romanos 12. 1-2 sobre a santificação e renovação da mente, para ver a Glória dEle. No Congresso, ouvi do pastor da Finlândia, uma palavra semelhante, ele disse também que haverá dias que as pessoas entrarão engatinhando no templo. Glorifiquei muito a Deus por isso… Quando ele te tocou e você foi para o chão, depois o Pr. Márcio, e ele chamou a Igreja para se arrepender, vi muitas pessoas entrando debaixo dos bancos, e estes levaram a Glória de Deus… mas isto foi só o começo, vai ter que humilhar mais… Sei que muitos tiveram visões, e você receberá muitos relatos sobre visões e sonhos. Porque a Glória do Senhor esta aqui… Um grande abraço. Que o Senhor te renove as forcas e restaure a sua voz.”
Bom, o texto em questão não pertence a Ana e sim a uma de suas leitoras. Todavia, a pastora da Lagoinha o publicou no seu blog, o que nos leva a crêr que referenda tanto o sonho e visão descrita neste artigo.


Caro leitor, acredito que seja muito perigoso fundamentarmos algumas posturas teológicas em experiências misticas. Veja bem, o relato em questão, em vez de ser submetido ao crivo das Escrituras, foi tratado pela Ana Paula como uma se de fato fosse uma Palavra inequivoca de Deus. Sinceramente afirmar que a glória de Deus estava debaixo dos bancos e que o povo estava sentado sobre ela e que havia necessidade de se passar pente fino na cabeça das pessoas é de uma sandice só.Ora, vamos combinar uma coisa? Aonde encontramos isso nas Escrituras? Em que lugar no Novo Testamento encontramos base bíblica para a unção do cai-cai?

Infelizmente uma das características mais marcantes de alguns dos evangélicos deste tempo é a sua avidez por novidades. De fato é impressionante a quantidade de cristãos que abandonaram o estudo sistemático das Escrituras Sagradas em detrimento as “experiências e novas revelações.” Segundo essas pessoas o crente não deve se preocupar em conhecer ou estudar a Bíblia, mesmo porque, para estes a “letra mata”. Para os que defendem este tipo de pensamento, o estudo ordenado das Escrituras e de suas doutrinas contribui para a extinção do fogo do Espírito Santo na vida da igreja . Diante do exposto, contraponho-me com veemência a este tipo de percepção afirmando efetivamente que a Palavra de Deus é viva, infalível, eterna e totalmente fidedigna. E que é somente por Ela que devemos nortear as nossas mais variadas e complexas decisões. É Ela que sacia a fome do coração e preenche as lacunas da existência. É Ela que revela o Criador, bem como o seu imensurável amor pelos eleitos de Deus.


As Escrituras são por definição a única Palavra de Deus escrita como também a única expressão verbal das verdades de Deus publicamente acessível, visível, e infalível no mundo. A Bíblia possui suprema autoridade em matéria de vida e doutrina; e somente ela é o árbitro de todas as controvérsias. Ela é a norma normanda e não a norma normata para todas as decisões de fé e vida. Se junta a isso o fato, de que a autoridade das Escrituras é superior à da Igreja, da tradição como também de qualquer estrutura hierárquica religiosa.

Diante disto repito aquilo que o Reformador alemão Martinho Lutero certa vez afirmou: “Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir.”

Soli Deo gloria,

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Renato Vargens é colunista no Púlpito Crist
ão

Um bate-papo com João Alexandre




Em dezembro de 2008 tive a oportunidade de estar com o João Alexandre em João Pessoa e conhecer mais de perto sua visão sobre a igreja brasileira, a música cristã/secular, e a adoração. Alguns contatos via internet e telefone, onde ele demonstrou bastante atenção e apreço, resultou numa rápida e interessante entrevista. Acompanhe abaixo.

UM BATE-PAPO COM JOÃO ALEXANDRE

1) Antognoni Misael:  João, no final do ano passado (2010) foi lançado seu primeiro DVD “João Alexandre – Dois Tempos” que tem sido bastante elogiado pelo público evangélico que curte música brasileira e até por outros de diferentes segmentos religiosos. Mesmo sendo um trabalho bem sucedido, muitos já se perguntam sobre o próximo DVD. Há alguma previsão? O que terá de diferente no próximo?

João Alexandre: Mesmo não participando diretamente das edições e da finalização do primeiro DVD, que, literalmente, ganhei da UMESP, gostei da experiência, de verdade!
Talvez eu parta para um segundo DVD chamando amigos de profissão e ministério e tocando algumas canções junto com eles, além, é claro, de contar as histórias que todo mundo gosta de ouvir, sobre a vida de músico e o processo das composições também. Acho que seria muito agradável ver 2 pessoas que têm seus próprios trabalhos e carreiras diferentes dividindo e compartilhando experiências! 


2) Antognoni Misael: Em seu livro “Músico: Profissão ou Ministério?” vários capítulos tratam do impasse temático da velha dicotomia cristã/secular. Em alguns momentos de sua apresentação musical você costuma fazer pontes, Pra cima Brasil / Aqui é o meu país (Ivan Lins), e citações como Deixa que eu deixo /Aza branca (Luiz Gonzaga), entre outras. Como você conjectura o secular e o “sagrado”? Essa relação é possível no âmbito da igreja?

João Alexandre: Para mim, todo dom perfeito é sagrado, porque é dado por Deus, que é Amor, incondicionalmente!
A Fé não substitui nenhum tipo de competência, de forma nenhuma!
Tem gente que tem uma Fé exemplar e não tem talento pra Música, enquanto tem gente que nem acredita em Deus e possui um talento, dado por Ele, incomparável, capaz de envergonhar qualquer músico cristão!
A vida não é secular ou profana, a vida é um dom de Deus pra “seculares” ou “profanos” e isso nos ensina a profundidade da chamada “Graça comum”, que é o fato de que Deus distribui igualmente dons e talentos a todos os homens, sem que eles se convertam ou acreditem nEle!
Não podemos esquecer que a Igreja, além de ser uma comunidade de santos que se arrependem de seus pecados todo dia, também é uma comunidade de pecadores que buscam ser santos, certo??
Seria uma falta de reconhecimento e um desastre total, pensar que só cristãos criam e praticam coisas boas enquanto os incrédulos só praticam coisas ruins!!
Vivo dentro de igrejas, trabalhando com Música há mais de 30 anos e posso garantir que, em algumas ocasiões, encontrei muito mais maldade e orgulho nas críticas “sagradas” de irmãos “pseudo” convertidos do que em amigos “seculares” que convivem comigo nesse mesmo meio, muito mais verdadeiros e humildes na hora de me aconselharem sobre qualquer coisa da vida!
Adoração não é o conjunto de práticas religiosas, mas um estilo de vida e não tem absolutamente nada a ver com Música! Se converter não significa cantar ou tocar ou ser melhor do que outra pessoa, mas ter a plena consciência de que vem de Deus tudo o que temos e somos!
A Igreja deve ser pertinente fora das 4 paredes dos templos e se tornar relevante na capacidade de enxergar, em qualquer ser humano, os traços divinos!
Afinal, Deus desceu do Céu, se fez homem, convivendo com os piores homens de Seu tempo, sendo Sal e Luz para eles e nos mostrando o Caminho do Amor incondicional!
O fato de Deus habitar em nós não é privilégio nem preferência, mas pura Graça!


3) Antognoni Misael: Como você vê a descontextualização da igreja através da música? Há como virar esse jogo? Que seriam os agentes de transformação: músicos ou líderes pastorais?

João Alexandre: Acho que a responsabilidade é de ambos, não só de um ou de outro, em relação a contextualizar a Igreja com a cultura!
Tem que haver vontade, desprendimento e alegria ao fazê-lo, pois o Brasil é culturalmente riquíssimo e esquecidamente abandonado pela Igreja nesse ponto!
Virar o jogo seria abrir as portas das congregações para manifestações culturais inseridas no meio secular, de forma insertiva e esclarecedora, coisa que muita gente morre de medo de fazer, por achar que seria se “misturar” com o Mundo!
ECLÉSIA significa chamados para fora e fazer a Comunidade ao nosso redor se enxergar dentro dos nossos templos seria um bom começo!


4) Antognoni Misael: Alguns grupos e músicos têm feito uma música de qualidade, vestida de brasilidade e coerência bíblica, mas por não se parecerem com o que se vem tocando na mídia em geral enfrentam o dilema de não serem ouvidos e/ou entendidos. Como um artista que nada contra o “Nilo Gospel”, que conselhos você pode deixar para aqueles que decidiram esse caminho musical?

João Alexandre:  “Peixe que nada a favor da maré é peixe morto”, já disse alguém!
O grande Bill Cosby, comediante dos anos 80 afirmou: “Não sei o segredo do sucesso, mas o segredo do fracasso é querer agradar a todo mundo!”
Em meus quase 30 anos de profissão, entreguei nas mãos de Deus minha decisão de fazer Música que fosse brasileira e relevante ao invés de importada e conservante e Ele tem me honrado muito, sempre, com convites e trabalhos! Cantar o que as  pessoas precisam ouvir ao invés de cantar só que elas querem ouvir é um grande desafio!
Vc não vai nunca ficar rico, agradar milhões de ouvidos e ser bem quisto em todos os lugares, mas vai viver uma vida financeira digna ao buscar agradar sómente os ouvidos de Deus e ser honrado por poucas e verdadeiras pessoas que pensam e caminham como vc!


5) Antognoni Misael: Pra encerrar, João, queria desde já agradecer pela atenção e prestatividade, e saber qual a possibilidade, quando e como, de tê-lo aqui na Paraíba novamente.

João Alexandre:  Quando algum convite aparecer, estamos aí, sempre! A gratidão é toda minha, pelo espaço valioso que vc me deu!!! 


6) Antognoni Misael: Alguma consideração final?

João Alexandre: Peço oração pela minha família e pelo meu trabalho e o apoio de sempre, daqueles que nos amam e nos acompanham de perto ou de longe!!



* João é músico, compositor, produtor, ex-integrante do “Grupo Pescador”, “Vencedores Por Cristo”, “Grupo Milad”, e desde os anos 90 tem sido uma referência no cenário musical evangélico.

Quando a música ensina a vida…

Por Antognoni Misael

Segundo Aurélio, música “é a arte e ciência de combinar sons de maneira agradável aos ouvidos”; no entanto, penso que seria mais lógico dizer que ela é a arte de combinar sons e silêncio, já que o ser “agradável” a alguém pode variar de pessoa para pessoa. Gostos à parte, o que muitas vezes não sabemos é que além dos discursos, sentimentos e vibrações, a música se parece tanto com nós humanos que a sua linguagem e recursos são freqüentemente usados na vida cotidiana. Pra tirar lições dela, se faz necessário reconhecer não só seus componentes básicos: ritmo, melodia e harmonia, mas outros elementos que são determinantes para uma boa execução, por isso pensei na dinâmica e no fraseado como aspectos importantíssimos para uma peça musical bem tocada.

Vejamos o que cada item pode nos ensinar:

RITMO: é a ordem das batidas, a acentuação dos sons e das pausas de maneira ordenada.
Em nossas vidas o ritmo está presente na forma pessoal de cada um desempenhar seu andar cadencial (cada um tem seu próprio ritmo), como também na velocidade do nosso dia-dia; há pessoas cujo ritmo de vida é bastante acentuado, estressante, e nesse caso, as pausas são bem vindas, pois nelas as forças devem ser renovadas pra que a “música da vida” não pare.

MELODIA: é a sucessão de sons musicais combinados gerando um sentido, ela pode ser agradável para uns e não para outros.
Em nossas vidas, os traços melódicos têm haver como a personalidade de cada um; melodias alegres, tristes, simples, complexas, contagiantes ou tensas, representam pessoas e seus discursos, ou seja, é o “solo musical da vida” que cada uma entoa no seu cotidiano.

HARMONIA: é a combinação de sons simultâneos gerando intervalos e acordes. É o conjunto de notas vibrando ao mesmo tempo num mesmo espaço auditivo.
Em nossas vidas harmonia representa a capacidade de sociabilidade que cada um tem. É conviver em harmonia com o próximo escutando um tom que às vezes não lhe agrada ou estando num grupo de notas distintas da sua, e mesmo assim em meio a tanta dissonância, construir a unidade sonora produzindo uma bela peça musical é sinal de superação e capacidade de lidar com o diferente. Isso é que é viver em harmonia com os outros.

Quando esses três elementos estão bem resolvidos numa música, e cada instrumentista consegue dominá-los satisfatoriamente, chega-se à hora de compreender aspectos importantíssimos relacionados à execução da música (muitas vezes eles passam despercebidos até por músicos habilidosos):

DINÂMICA: é a capacidade e habilidade de lidar com as propriedades do som (altura, timbre, duração e intensidade) durante a execução de uma peça. Muitos músicos iniciantes ou inexperientes às vezes conhecem os ritmos, acordes, solos, mas não têm a mínima noção dos momentos baixos e altos da música. Às vezes isso gera um efeito egocêntrico, principalmente quando o volume de um instrumento está com a dinâmica bastante alta ofuscando o brilho harmonioso do conjunto – isso é muito comum nos bateristas “mão-de-ferro” e nos guitarristas da “santa distorção”. Essas nuanças entre o forte/fraco, alto/baixo são importantíssimas não só para a música, mas para a vida.
Em nossas vidas há momentos de baixarmos nossa voz, há momentos de até silenciarmos; já em instantes oportunos, dizer algo com o tom de voz forte, alto, pode ser super adequado como, por exemplo, reivindicar por saúde e educação, pedir por socorro, comemorar o gol do seu time ou até mesmo repreender alguém de forma sensata.

FRASEADOS: os fraseados são expressões de solo sobre três ou mais notas, podem ser entendidos também por pequenas ornamentações, arranjos, ou solos curtos. Essa linguagem musical deve ser colocada de acordo com o contexto da música: em blues, usa-se frase de blues, em baião, frase de baião, em samba, de samba, e assim deve sempre ocorrer em outros estilos.
Em nossas vidas é preciso ter a sabedoria de usarmos nossas frases da melhor maneira possível. A linguagem é algo que deve ser inteligível e contextualizada; as frases que usamos em casa são construídas sob uma ideia de intimidade, liberdade e até com excesso de sinceridade; quando se fala de ambiente de trabalho, as frases devem ser pautadas de profissionalismo, responsabilidade e alteridade. Falar uma linguagem que ninguém conhece pode deixar a coisa sem nexo algum. O apóstolo Paulo reforça a importância disso ao afirmar que é melhor falar cinco palavras que alguém entenda do que dez mil desconhecidas (I Coríntios 14:19).

Nossa vida é uma canção entoada por nossas atitudes, portanto, aprender com a música é um bom começo pra quem não quer desafinar sua própria história.

Governo do Estado da Paraíba não curte Forró de Plástico…que Bom!

 Por Antognoni Misael
Recentemente algumas declarações do então Secretário de Cultura do Estado da Paraíba geraram embrulhos de mal estar na galera do “plastic forró descartável”. Afirmando que seu compromisso é com a cultura e não com o mercado, e reiterando a importância de um resgate cultural da arte paraibana, Chico César fez relembrar nas diversas entrevistas que concedeu que tais bandas de sucesso (Aviões do Forró, Forró Pegado, Garota Safada, etc.) recebem altos cachês de governos e prefeituras – valor até 10 vezes superior a uma atração de qualidade na música brasileira -, e em seguida se vão com a grana do povo, restando para a cidade apenas latas de cervejas a serem recolhidas.
Pois é, o público do “plastic forró descartável” não gostou nada, e insinuou que o secretário agiu com intolerância. 

Veja na íntegra o que Chico replicou:
***
“Tem sido destorcida a minha declaração, como secretário de Cultura, de que o Estado não vai contratar nem pagar grupos musicais e artistas cujos estilos nada têm a ver com a herança da tradição musical nordestina, cujo ápice se dá no período junino. Não vai mesmo. Mas nunca nos passou pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências. Quem quiser tê-los que os pague, apenas isso. O Estado encontra-se falto de recursos e já terá inegáveis dificuldades para pactuar inclusive com aqueles municípios que buscarem o resgate desta tradição.

São muitas as distorções, admitamos. Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava “Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver”.

Intolerância é excluir da programação do rádio paraibano (concessão pública) durante o ano inteiro, artistas como Parrá, Baixinho do Pandeiro, Cátia de França, Zabé da Loca, Escurinho, Beto Brito, Dejinha de Monteiro, Livardo Alves, Pinto do Acordeon, Mestre Fuba, Vital Farias, Biliu de Campina, Fuba de Taperoá, Sandra Belê e excluí-los de novo na hora em que se deve celebrar a música regional e a cultura popular”.

Secretário de Estado da Cultura – Chico César

A Graça do Reggae

Por Antognoni Misael
Quem curte o contratempo dos compassos sabe do que estou falando. Batida firme, linha de baixo solta, guitarra staccato, órgão ritmado, voz possante. Falo do Reggae, a cara da Jamaica.

Quase sempre relacionado com a ganja, o som da Xaymaca (terra dos mananciais) é evitado por alguns cristãos que o interpretam como um estilo musical lascivo, no entanto, equívocos à parte, vejo que ele tem muito a nos ensinar. Ele não foi fruto de encomenda cultural, invenção de marqueteiro musical, nem tampouco tem haver com a Som Livre, MK, Line Records ou Rick Bonadio. O Reggae representa o grito da sujeição das algemas no século XVI ecoado na África que ressoou fortemente Jamaica em tom de liberdade no século XX. Ele me fascina porque faz lembrar navio negreiro, corpos lançados ao mar, sonhos de famílias destruídos, mas também liberdade, justiça, alegria e superação.

Em 1962 os jamaicanos livraram-se do julgo inglês, mas não de um legado de violência, desemprego, miséria e anafalfabetismo. Ali sobrava no fim da história, um povo sofrido, carente da misericórdia de Deus e ainda ferido em nome Dele.

Não poderia falar do Reggae sem citar Marcus Garvey, o primeiro jamaicano a receber o título de herói nacional; tal herói desejava levar os negros de volta para a África sob o lema “Um Deus! Uma aspiração! Um destino”! Movido por uma interpretação velho-testamentária equivocadamente aplicada a Jamaica, foi citado na canção de Steel Pulse Whorth His Weight In Gold” (Valeu seu peso em ouro), relacionando o sentimento jamaicano com as cores da bandeira etíope: “Vermelho pelo sangue que fluiu como um rio, verde pela terra – África, amarelo pelo ouro que eles roubaram, negro pelo povo que eles roubaram”.

Com um discurso político-religioso Bob Marley surge na década de 70 como o principal representante do Reggae. Identificado com a ideia de redenção e liberdade para o país recém liberto da colonização, ganhou notoriedade no mundo todo e espalhou a música jamaicana por todos os lados do globo. O seu talento era inegável e seu discurso além de libertário, era forte e conquistador. Pra mim, uma das canções que mais chama atenção é Redemption Song, (Canção da Redenção), e que merece de forma inadiável ser apreciada.
Sinceramente, hoje em dia quando ouço um louvor em forma de Reggae, ou quando toco, tipo “Quem pode livrar como o Senhor?” (de Bené Gomes) nesse estilo, penso: será que os crentes sabem o que o Reggae significa? Sabem em que circunstâncias ele surgiu? De onde veio? Como chegou até nós? Será se pensam que ele foi invenção dos crentes?

Digo sem dúvida que as sementes do Reggae foram os escravos trazidos nos porões dos navios negreiros da África para o Caribe. E o interessante é que nessa história de sujeição, separação, imposição, escravidão, incrivelmente surge o novo,  o improvável, o belo. Isso mostra que Deus rege a humanidade de uma forma extraordinária, visto que nesse caleidoscópio de Graça Divina muita coisa passa despercebida por nós diante de Sua grandeza.
Deus, Maestro da Música, da Arte, da História! Ele, somente Ele compõe arte no meio da guerra, compõe vida em ensejos de morte, compõe misericórdia em trajetória de injustiça.

Quando penso naquele grande dia o qual de toda tribo, língua, povo e nação estará diante Dele [Ap 5.9],  me torno mais convicto ainda de que as identidades culturais espalhadas pela humanidade, embora rabiscadas pelo pecado, são traços criativos de Sua Graça. Portanto pessoal, louvemos a Ele através do Reggae!!

Santa Paula Valadão: Idolatria evangélica

Por Vera Siqueira 
Não bastasse a Ode ao Pr. Dilmo dos Santos, que aliás serviu bem aos propósitos da Assembléia de Deus do Brás, na figura do Pr. Samuel Ferreira (pois o Dilmo foi eleito deputado estadual da denominação), agora descobri um vídeo com a Ode à Ana Paula Valadão.
 Desde o ventre da tua mãe o Senhor te contemplou
Cada um dos teus dias escreveu com amor
Ana Paula, a menina, que um dia seria
A voz de Deus nesta nação
Ana, o Senhor te chamou
Ana, Ele te levantou
Nada pode te impedir
O Espírito de Deus está sobre ti
Cremos que há muito mais para se realizar
Haverá transformação aonde a sua voz chegar
Ana Paula, és ungida, foste escolhida
Como voz de Deus para as nações
Ana, o Senhor te chamou
Ana, Ele te levantou
Nada pode te impedir
O Espírito de Deus está sobre ti
Fizeste tua entrega, sem olhar pra trás
E por tudo o que foi preciso renunciar
No nome de Jesus
ESTA GERAÇÃO QUER TE HONRAR!
O mais triste de tudo é que são alunos do centro de formação de missionários e pastores do ministério Diante do Trono. Isso significa que não aprenderam (ou não lhes foi ensinado) nem o básico mais básico da doutrina cristã: que toda a honra e a glória pertence a Deus, não a homem ou mulher algum.
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Vera Siqueira é corinthiana, mãe e blogueira. Junto com o Paulo Siqueira, organiza anualmente a Marcha pela Ética Cristã.
Texto e vídeo extraído do www.pulpitocristao.com
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Nota do blogueiro Antognoni Misael:
Quando agente fala, fala, às vezes até sendo mal interpretado, ninguém acredita e pensa que é intriga da oposição, inveja, ou falta do que fazer. Mas diante dos fatos não há argumento, e tá aí um vídeo simples que representa o que pensa essa tal “geração” a respeito do reino de Deus. Não chamarei de idolatria pra não ser tão duro com os que curtem a Ana, mas chego bem perto. Isso é sabe o que?  Fanatismo! Mundanismo! Personalismo! Um dos comentário que me chamou atenção foi a de um católico quando viu o vídeo, ele disse: “se fosse Maria (mãe de Cristo), os evangélicos diriam que a música é uma idolatria“. E ele tá certo, como é com a Ana (e pelo que li, ela até se passou por postar isso no blog dela), eles justificam que é apenas uma homenagem: ESTA GERAÇÃO QUER TE HONRAR”.
Só a Deus, honra e glória. (1 Cron 29, 10b-13)

RENATO RUSSO E O SAGRADO CORAÇÃO

Por Antognoni Misael

Conheci a banda Legião Urbana no fim da minha adolescência, e foi nesse meu mundinho complicado que meus medos, dúvidas, anseios, alegrias, revoltas e insatisfações encontravam um “abrigo”, muito embora esse “abrigo” fosse um lugar com pessoas iguaiszinhas a mim à procura de um sentido pra vida. Lembro bastante de algumas canções do Legião, ou do Renato Russo, afinal não dá pra falar de Legião sem Renato, ele era o centro da banda, era a intuição e a performance viva do Rock brasileiro da época.
O pensamento da juventude brasileira nos anos 80 em desgosto com a ditadura militar e que vivia as incertezas em relação ao futuro e a si própria chegaram até mim nos anos 90, e algumas canções confesso que jamais esquecerei.


“Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo, temos todo tempo do mundo.Tempo Perdido

Ficaremos acordados imaginando alguma solução pra que esse nosso egoísmo não destrua nosso coração?Será

“Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação. Que País é esse?Que País é esse

“E há tempos são os jovens que adoecem. E há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção…” Há tempos

“Quem me dera ao menos uma vez provar que quem tem mais do que precisa ter quase sempre se convence que não tem o bastante fala demais por não ter nada a dizer.” Índios


Analisar Renato Russo e as suas mensagens me faz perceber que embora sua música não fosse tão comercial, o que lhe tornou um ícone do Rock para os jovens da época, foi não economizar sinceridade. De fato, ninguém mais do que ele próprio se identificava como o que cantava. Cantou seus sonhos, frustrações, medo, revolta, otimismo, e por fim, a sua própria morte – o Rock In Roll tão idealizado pela geração anos 60 e assimilada por ele, logo foi dando lugar à angústia, melancolia e ao maior vazio que o homem pode sentir.
No fim de sua vida, trancado no seu quarto, Renato compôs “Via Láctea” (do álbum “A tempestade” – 1996): “Quando tudo está perdido sempre existe um caminho, quando tudo está perdido sempre existe uma luz…. Mas não me diga isso..”. Nessa canção ele torna a tristeza, a febre e a dor em uma obra de arte em fase de despedida. Sua angústia me fez lembrar que nós também não estamos isentos de sofrê-las, porém, apenas com uma diferença: sempre existirá “o caminho” e “a luz”. Equivocados pensam que o cristão verdadeiro não sofre de medos e não passará por angústias, ao contrário do que a condição humana nos mostra, “meros escravos das emoções”.
Diante de um quadro irreversível, debilitado e pesando em média 45 quilos, Renato escreve a canção “Sagrado Coração”, que só vem a ser divulgada no último disco “Uma Outra Estação”, 1997, no ano seguinte de sua morte. Essa música gravada, que não possui o registro de sua bela voz, revela-nos uma confissão final em busca do sentido pleno para sua existência. 
Abaixo, a letra com os grifes que me chamaram atenção:




SAGRADO CORAÇÃO

Sei que tenho um coração
Mas é difícil de explicar
De falar de bondade e gratidão
E estas coisas que ninguém gosta de falar

Falam de algum lugar
Mas onde é que está?
Onde há virtude e inteligência
E as pessoas são sensíveis
E que a luz no coração
é o que pode me salvar
Mas não acredito nisso
Tento, mas é só de vez em quando

Onde está este lugar?
Onde está essa luz ?
Se o que vejo é tão triste
E o que fazemos tão errado?

E me disseram!
Este lugar pode estar sempre ao seu lado
E a alegria dentro de você
Porque sua vida é luz

E quando vi seus olhos
E a alegria no seu corpo
E o sorriso nos seus lábios
Eu quase acreditei
Mas é tão difícil

Por isso lhe peço por favor
Pense em mim, ore por mim
E me diga:
– Este lugar distante está dentro de você
E me diga que nossa vida é luz
Me fale do sagrado coração
Porque eu preciso de ajuda



Quando leio ou escuto Renato Russo fora da perspectiva técnica, musical e estilista, não priorizo a prática de vida regressa ou seus ideais de vida, mas prefiro observar o seu estado de essência. Às vezes nós como Cristãos supervalorizamos o arcabouço, o estético ou a ideia representativa de alguém, mas não atentamos para a condição interna de um pecador distante de Deus, ou seja, a de alguém com um coração aflito e cansado. Nesse texto Renato roga por uma resposta, “Onde está este lugar? Onde está essa luz ?” e nesta hora lembro que Deus “pôs no coração do homem o anseio pela eternidade”(Ecl 3.11), e esse sentimento só será preenchido quando lhe for colocado o Sagrado Coração sensível a voz de Deus.
“Me fale do sagrado coração porque eu preciso de ajuda”, são as últimas palavras dele em sua canção. Nesse instante, Renato não clamava pela cura da AIDS, por algum antídoto medicinal ou paliativo que aliviasse suas dores, a sua dor era existencial de reconhecimento de morte espiritual sob a sensação de partir para outra com a ausência da certeza do porvir. Termino dizendo que Renato era simplesmente um poeta distante de Deus que clamava por Ele sem saber chamá-Lo. 
Que possamos em nosso dia-dia aprender a olhar além das aparências e dos discursos, visando em que estado de coração se encontra aqueles que nos rodeiam, só assim evitaremos escutar em tom de exortação perante as nossas negligências, quando não falamos do amor de Jesus ao nosso próximo, alguém se dirigir a nós e dizer “me fale do sagrado coração porque eu preciso de ajuda”.

Igreja Evangélica Brasileira: uma descontextualização através da música

Com a legitimação da Indústria Cultural no meio evangélico e a implantação da marca “Gospel”, a igreja brasileira nos últimos anos tem sofrido uma forte descontextualização em relação a música. Verdades bíblicas têm se reduzidos a chavões religiosos, frases de efeito e melodias de rápida assimilação. Essa música inserida na lógica do concorrido mercado da música nacional, não só foge dos padrões brasileiros em termos sonoros, mas aparenta convergir com as mesmas engrenagens mercadológicas da música secular. A questão passeia por toda a comunidade evangélica brasileira: um verdadeiro nicho cultural de variadas vertentes.
Aqui trago rapidamente a nossa memória a histórica resistência por parte de algumas igrejas reformadas, relacionada à musicalidade intrinsecamente nacional, onde a preservação dos moldes europeus ainda persiste na forma de culto, na arquitetura, no uso apenas do órgão como verdadeiro instrumento sacro liturgia do culto. Para esta vertente, os instrumentos afro-brasileiros e sua música representam elementos de uma herança cultural pecaminosa, além de se tornarem uma ameaça às letras das canções as quais podem distrair o ouvinte do objetivo central que é entender a mensagem cantada para poder adorar a Deus. Definitivamente, esse tipo de visão nem chove nem molha para o mercado gospel, afinal nem para o Mercado nem para essas denominações a ideia de contextualizar é interessante.
Consta na história da música evangélica que foi a partir dos anos 1970 que aconteceram os primeiros registros de uma mentalidade musical nacional vinculada a um grupo de nome “Vencedores por Cristo” e outros grupos, no entanto essa projeção de brasilidade ainda hoje restrita a uma pequena porcentagem de manifestações evangélicas foi ofuscada fortemente na década de 90 quando o Mercado Gospel passou a ser o “levita” da grande maioria das igrejas no Brasil – não discuto se o mercado é bom ou mal, mas aponto sua postura unilateralmente importada.
Pesquisando a fundo sobre esse assunto, notamos também uma considerável ausência da musicalidade popular brasileira nos cultos religiosos das igrejas neopentecostais de médio e grande porte, cuja forma, mesmo apresentando indícios de sofisticação, traz uma linguagem descontextualizada em relação ao cosmo cultural, e uma sonoridade importada do gospel internacional (é comum ouvir vários Michael’s W. Smith, Hillsong’s em versão tupiniquim). O próprio termo “Música Gospel” surgido no início do século XX através das músicas religiosas dos negros nos Estados Unidos e que passou a ser utilizado no Brasil por volta da década de 90 por um determinado grupo, hoje não parece ter relação alguma com o seu significado contextual, aproximando-se mais de uma espécie de rótulo, marca ou produto demandado por um mercado evangélico (Gospel) para um grande público consumidor.
Diante da diversidade cultural da nossa Terra de Vera Cruz, ressoa a pergunta: por que o uso do baião, samba, frevo, bossa, maracatu, etc., é tratado com tanta desconfiança? Essa ausência nas igrejas é uma justificativa religiosa? Ou mera importunidade ocasionada pela lógica de consumo do mercado gospel?
Imaginamos que na nossa colonização “espiritual” não houve por parte dos missionários europeus e americanos simpatia com as músicas e danças aqui existentes, mas as coisas evoluíram né? Pois é, nessa área ainda não pois a atual “música gospel” do Brasil ainda é palco de uma descontextulização grave. Que essa realidade possa mudar, e que nossa nação possa vestir a própria roupa cultural e cantar: “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor”!

Texto baseado no Projeto de Pesquisa “A Igreja Evangélica Brasileira: uma descontextualização através da música”. (Pós-Graduado em História Cultural)