Ao falar sobre música cristã no Brasil, volta e meia sempre volto ao tema do Gospel. Recentemente, num projeto acadêmico realizei uma pesquisa sobre o tema propondo um olhar sobre o gospel enquanto invenção. Meus argumentos permeiam sobre uma análise cultural pautada na indústria evangélica solidificada na década de 90, discutida inclusive em um de nossos textos anteriores.
– Podemos fazer música gospel? Sim, claro, como mostrou a performance do prodígio Jotta A. no vídeo acima (embora ele tenha temperado com soul, hip hop). Entretanto que se compreenda que este como estilo musical precisa de diretrizes estéticas que o tornem de fato uma canção gospel. Quem faz um samba com guitarras e distorções, certamente não o fará, assim como há muito pop rock, balada romântica, se denominando gospel.
A canção estilo gospel é, grosso modo, de base folclórica da música norte-americana. Ela foi sendo ressignificada com o passar dos anos, quando alguns elementos sonoros passaram por processos híbridos modificando assim o gospel mais rudimentar, contudo seus elementos ainda permanecem bem presentes na música religiosa norte-americana.
Curta os vídeos desta postgem e sinta um pouco da espontaneidade, das escalas, técnicas e improvisos, comuns na balsa musical advinda dos cantos e respostas do worksong, blues and jazz, presentes no gospel. Essas sim, são canções gospel!
Os colonizadores tiraram proveito de nossas riquezas; os reis, os burgueses, os políticos, os países, até que nós mesmos fomos contaminados por esta (in)consciente herança: eu quero é me dar bem!
Em mais uma oportunidade pude reencontrar o antigo e guerreiro ônibus do Grupo Logos – o velho dinossauro, substituto legal do pequeno Micróbio (antigo micro-ônibus) -, e claro, rever o incansável Paulo Cezar, só que desta vez, infelizmente desacompanhado de sua principal companheira, sua esposa Nilma, que ficara no sul do país dando assistência a sua netinha recém nascida. Mas apesar dos desencontros, creio que nenhuma temporada é tão especial quanto esta, pois completam-se 30 anos de um aguerrido ministério que passou e passa maior parte dos 365 dias anuais cantando em vilas, praças, teatros, templos, falando do amor de Jesus de uma forma simples, clara e objetiva.
Em um desses anos que estive com Paulo Cezar, ele comentava sobre as implicações de terem escolhido um caminho longe do estrelismo, e da busca desenfreada pelo topo da fama… E certa vez, contou ele, quando gravava em estúdio o seu último disco lançado até então, Pescador, recebeu a visita de um grande produtor (de nome não revelado) que de forma enfática elogiou a beleza e profundidade de como falava de Deus em suas canções, mas ao mesmo tempo, relutando, sugeriu que ele mudasse seu estilo e que fizesse canções a gosto do mercado, pois por esse caminho, o sucesso, as vendas, os contratos e a fama logo chegariam (caminho possível, mas perigoso, pois poucos são os crentes que sabem andar por ele sem que se corrompam ao próprio orgulho e soberba).
Mas para que esse algo eu conhecesse
Quando Ele me chamou
Quem sabe um dia desses você vai sentir também
Quem sabe um dia desses você vai pensar também
Quem sabe um dia desses você vai ouvir a mesma voz
Ou quem sabe um dia o fará mudar de atitude, vida, rumo e de propósito.