O diabo é o pai do Rock?

Renato Vargens

Houve quem dissesse que quando as igrejas históricas permitiram que a guitarra e a bateria entrasse em seus cultos, o diabo encontrou uma grande oportunidade para atrapalhar a adoração a Deus. Junta-se a isso o fato de que não são poucos aqueles que baseados numa canção de Raul Seixas afirmam que o diabo é o pai do Rock.


Outro dia um amado irmão em Cristo afirmou com todas as letras que o Rock é a coisa do cão e aqueles que escutam este estilo de música está agradando o diabo. Ao ouvir tão dura sentença perguntei ao meu interlocutor de onde ele tirou essa sandice, e ele sem titubeios me respondeu dizendo: Aprendi isso com o pastor americano fulano de tal.

Caro leitor, os ritmos musicais, bem como as variantes culturais pertencem a Deus. Lamentavelmente os evangélicos possuem a triste mania de tornar a vida uma grande obra maniqueísta. Nesta perspectiva, a música tem sido dividida em música do mundo e música cristã, ritmos sagrados e e ritmos do capeta. Ora, vamos combinar uma coisa? O simples fato de uma canção ter sido composta por um crente não significa necessariamente que ela seja de Deus, até porque, o que existe de gente que se diz crente e não nasceu de novo compondo canções evangélicas não está no gibi.

Prezado amigo, acredito que a música esteja relacionado a cultura de cada país e que o Evangelho de Cristo respeita as variadas manifestações culturais. Ora, tenho pregado em vários países do mundo, e visto Deus agir através de ritmos que se fossem tocados no Brasil com certeza seria satanizados pelos evangélicos tupiniquins. Jamais esquecerei a maravilhosa música Haitiana, Africana e Peruana, que ao serem tocadas por nossos irmãos em Cristo, glorificam ao Criador do Universo.

O Rock nunca foi a minha preferência musical, particularmente eu prefiro a Bossa Nova, o Jazz, o Soul, e a boa música popular brasileira. Todavia, o fato do Rock não ser o meu ritmo preferido, não me dá o direito de afirmar que seja coisa do demo. Bem sei que existem bandas como DC talk, Oficina G3, Magnum Opus, Fruto Sagrado e outras mais que tocam rock n´roll e que levam a mensagem do Evangelho através do seu trabalho.

Isto, posto, concluo esse post com um verso das Escrituras que diz ” Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1:17

Naquele que vive e reina Soberanamente sobre tudo e todos.

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Você vai gostar de ler também esta matéria aqui. Fonte: Renato Vargens.

A arte de Lenine e a Cosmovisão Cristã [Graça Comum]

“Todas as coisas foram
criadas por ele e para ele”.
(Colossenses 1.16b NVI)
Quando se escreve sobre artes em um veículo de leitura protestante, sem citar artistas do meio protestante, corre-se o risco de ser criticado por vários irmãos de fé. Estes se esquecem que Deus é soberano. Não sobre uma ou duas coisas, mas sobre todas as coisas. Não é possível ser cristão nos eventos eclesiásticos e possuir outro modo de vida no dia-a-dia da família, trabalho, educação, entretenimento.
Deus reina sobre tudo e, consequentemente, sobre toda arte. Quando traço um comentário sobre arte não-cristã, minha visão deve partir da “lente bíblica”, a chamada “cosmovisão cristã”. Não devo desviar meu olhar, como cristão, de coisas que julgo não “serem de Deus”. Tudo é passível de julgamento a partir da cosmovisão cristã, seja para críticas sobre aquilo que entendemos ser errado, seja para elogios necessários às obras e artistas.
A partir dessa leitura cristã posso admirar, por exemplo, canções cujas letras não trazem termos “evangélicos”, mas que possuem em seu cerne valores do Reino de Deus.
A crítica sobre poluição no mar de A Mancha, canção de Lenine e Lula Queiroga (gravada no CD Labiata, 2008) tem em si valores do Reino, sem necessariamente falar a palavra “Deus” e sem seus autores se declararem “músicos evangélicos”:



“A mancha vem comendo pela beira
O óleo já tomou a cabeceira do rio
E avança
A mancha que vazou do casco do navio
Colando as asas da ave praieira
A mancha vem vindo
Vem mais rápido que lancha
Afogando peixe, encalhando prancha
A mancha que mancha,
Que mancha de óleo e vergonha
Que mancha a jangada, que mancha a areia
Negra praia brasileira
Onde a morena gestante
Filha do pescador
Derrama lágrimas negras
Vigiando o horizonte
Esperando o seu amor”

Falta engajamento e liberdade dos artistas cristãos em relação a essa visão de mundo ecológica e que escrevam, pintem, cantem, dancem, atuem e explorem, enfim, a temática declarando: Deus é soberano sobre a natureza e devemos cuidar dela! Não só ecologia, mas falta adentrar com a arte cristã na política, economia, problemas sociais, história, saúde, entre tantos e tantos assuntos. Com algumas exceções, por vezes as letras das canções feitas por cristãos são extremamente alienantes e distantes da realidade contextual brasileira, o que não é, segundo uma cosmovisão cristã, algo correto.
Sejamos cristãos em qualquer situação, tempo e espaço, como Cristo nos ensinou. Coerência é fundamental em nossos passos. Caminhemos.
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Sérgio Pereira é músico, historiador, educador, escritor e revisor pedagógico do Sistema Mackenzie de Ensino. Mestrando em Educação Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faz parte do duo musical Baixo e Voz. Fonte: Ultimato

BURACO DA ALMA – #SÉRIE Ec 3:11

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Vi no Mero Cristianismo.

Paciência, apenas sinta…

Paciência quando o corpo pesar. Sinta a mente!
Paciência quando a lágrima chegar. Sinta o abraço!
Paciência quando o tempo findar. Sinta o eterno!
Paciência quando alguém te decepcionar. Sinta o perdão!
Paciência quando Sol escaldar. Sinta a luz!
Paciência quando a noite se fizer escuridão. Sinta as estrelas.
Paciência quando a morte se revelar. Sinta o descanso!
Paciência quando o pecado te perseguir. Sinta a Graça.
Paciência quando a voz dEle calar. Sinta a Sua vontade!

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Lenine é um ícone da nossa música brasileira, e eu curto muito!

Se eu quiser falar com Deus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar

Gilberto Gil

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A ideia da canção me lembra do costume que Jesus tinha de se ausentar para orar. Muito embora o Pai o escutasse em qualquer instante, nos deixou o exemplo da necessidade de por alguns momentos, se retirar, “ficar a sós” com o Pai (Mt 14.23). Em instantes como este às vezes é preciso “calar a voz”, nada pedir, evitar julgamentos torpes, e só escutar o que Ele tem pra nos ensinar.

“Folgar os nós dos sapatos, da gravata” nos remete a ideia de desapego da incansável materialidade da vida, o contínuo trabalho, que fadiga, cansa, estressa. Portanto, nesse instante a sós com Ele, é bom que se deposite toda ansiedade, desejos, receios, se apresentando de alma e corpo nus, em Espírito e em Verdade, tendo as próprias “mãos vazias”, sem apego, ganância, altivez…
A expressão “Aceitar a dor”, nos expede a uma tribulação permitida por Deus que é indispensável para o crescimento espiritual (Tg 1.3-4), enquanto que “comer o pão que o diabo amassou” lembra-nos um ditado popular de sofrimento, porém indica a relegada e árdua tarefa consequente do pecado de Adão para a humanidade (Gen 3.17,19).
“Virar um cão” e “lamber o chão dos palácios, dos castelos” novamente nos leva a pensar no desprendimento material, visto que o lugar em que nos encontramos nesta vida representa o local cujo Deus nos colocou para que sejamos luz – seja num palacete ou simples emprego ou moradia (Mt 5.14-16).
“Apesar do mal tamanho” bom é sempre depositar nossa alegria no Senhor sabendo que Ele tem nos guardado muito para o porvir (1Co 2.9).
(…) “subir aos céus sem cordas pra segurar” nos convoca ao exercício da fé e confiança nEle e “dar as costas” para o passado, caminhando para a eternidade (Hb 11.1).
Contudo, caro leitor, o que fica fluido nesta canção é o incerto final que Gil imprime, ao dizer que o “findar vai dar em nada” do que ele “pensava encontrar”. Triste isso não é? Então, pensemos em algumas verdades por aqui ditas, mas com a grande complementação não feita pelo autor. Não sabemos como ele e muitas outras pessoas imaginam como será o fim de tudo, se crêem numa vida eterna vide céu e inferno, ou não, mas ratifiquemos que, aqueles que se achegaram a Deus, além de terem livre acesso para falar abertamente com Ele sem que sejam necessários ritos ou sacrifícios, têm a certeza de que no findar da vida por aqui, estarão nos braços do Pai para todo sempre (Lc 23.43).
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Eu, Antognoni Misael, um cara que continua procurando pontes entre arte “cristã” e “secular”, porém “nunca trocando a viva Palavra pelo que eu achava ou deixe de achar”.

THE BEATLES, DOSTOIÉVSKI E SALOMÃO

“O homem possui dentro de si um vazio do tamanho de Deus” (Dostoievski, escritor Russo)
“Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim.” (Salomão, rei de Israel, Eclesiastes 3:11)

Tradução:

Socorro! Eu preciso de alguém!
Socorro! Não qualquer pessoa
Socorro! Você sabe que eu preciso de alguém socorro!
Quando eu era jovem, muito mais jovem que hoje
Eu nunca precisei da ajuda de ninguém em nenhum sentido
E agora estes dias se foram, eu não sou uma pessoa assim tão segura
Agora eu acho. Eu mudei minha mente e abri as portas
Ajude-me, se você puder, eu me sinto pra baixo
E eu aprecio você estar por perto
Ajude-me, coloque meus pés de volta no chão.
Você não vai, por favor, ajudar-me?
E agora minha vida mudou em muitos sentidos
Minha independência parece dissipar-se na neblina
Mas de vez em quando me sinto tão inseguro
Eu sei que preciso de você como nunca precisei antes
Ajude-me, se você puder, eu me sinto pra baixo
E eu aprecio você estar por perto
Ajude-me, coloque meus pés de volta no chão.
Você não vai, por favor, ajudar-me?
Quando eu era jovem, muito mais jovem que hoje
Eu nunca precisei da ajuda de ninguém em nenhum sentido
E agora estes dias se foram, eu não sou uma pessoa assim tão segura
Agora eu acho. Eu mudei minha mente e abri as portas
Ajude-me, se você puder, eu me sinto pra baixo
E eu aprecio você estar por perto
Ajude-me, coloque meus pés de volta no chão.
Você não vai, por favor,por favor,ajudar-me,ajudar-me,ajudar-me,oh.
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Ao meu mano Antognoni Misael, que assim como eu, vive “achando graça” onde os religiosos não gostam de encontrar.


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Leonardo Gonçalves é editor do Púlpito Cristão, amigo e irmão em Cristo.

A Graça do Jazz

Por Antognoni Misael

Diante de uma infinda apreciação musical que tenho, passeando pelos sons da tríade folclore-erudito-popular, não podia deixar de registrar uns dos estilos de linguagem mais rica e apurada na música popular – particularmente o que mais venho curtindo recentemente: o Jazz.

Mas…quem criou o jazz? A pergunta ressoou
Certamente não surgiu do nada, assim como não foi fruto exclusivo da genialidade de Buddy Bolden, Duke Ellington, Miles Davis, ou de qualquer ser “iluminado”. Prefiro entender que o jazz foi fruto das fusões e contradições culturais próprias da América, especificamente dos Estados Unidos no século XIX. Felicidade/tristeza, negro/branco, Velha África/Novo Mundo não seriam antagonismos favoráveis às misturas culturais em um ambiente temperado entre sons africanos, nativos e europeus?
Considerando tais revezes de contribuição para o surgimento do jazz, não há impedimento algum que me faça desacreditar que os processos criativos específicos das muitas civilizações nasceram da inspiração dada pelo próprio Pai das Luzes (Tg 1.17).
Vejo em Apocalipse as grandiosas visões dos redimidos advindos de todas as tribos, povos, línguas e nações (Ap 5.9; 7.9; 14.6); noto a excelsa soberania de Deus no e Seu mover através cultura. Notemos que ao mesmo tempo em que Ele age nas individualidades do sujeito, conspirando para o Seu plano em cada ser, coopera em outra dimensão nos processos de criações e invenções que perfazem a história da humanidade e suas evoluções enquanto sociedades antes antigas em direção a modernidade, sofisticação e tecnologia. Processos estes que nos fizeram chegar até o presente vivido. Deus é o Autor e Senhor da História.
Trazendo para um prisma histórico, questões como o hibridismo, a dominação e/ou a resistência cultural corroboraram principalmente no aspecto colonizador, para o surgir de um “novo”- além do jazz no norte da América, poderíamos dar exemplos de estilos brasileiros, também, frutos desses impasses e misturas culturais. Enquanto isso, vale salientar, a música ao longo de sua história pôde perpassar por formatos rudimentares desde o canto gregoriano medieval, por exemplo, chegando até as harmonias complexas do jazz. Isto significa, grosso modo, que a história da música reflete em boa parcela os processos de transformações históricas das sociedades.

Diferentemente do Brasil, onde a colonização européia permitia o uso dos instrumentos percussivos nos rituais escravistas, a norte-americana, mais rígida, relegou aos seus escravos o contato com os instrumentos de bandas marciais: trompete, tuba, clarinete, etc. – restantes do período da Guerra de Secessão – além do piano, cujo contato se deveu a outra situação. Eis a diferença substancial da colonização brasileira para norte-americana; enquanto o negro daqui se envolveu mais na linguagem percussiva, os do norte se deram mais aos aspectos melódicos e harmônicos.

A partir de 1817 os escravos de Nova Orleans receberam permissão para cantar, dançar e tocar seus instrumentos rítmico-melódicos trazidos da África nas tardes de domingo em um local chamado “Congo Square” – ali alguns brancos curiosos contemplavam os ritos africanos que envolviam a percussão, melodias das canções de trabalho, e as polifonias próprias do africanismo – onde o branco europeu celebrava o exótico!
Chegando a primeira década do século XX, o jazz já se mostrava em fase de concretização, porém não tinha reconhecimento no seio da sociedade. Sua marginalização ocorria principalmente pelos ambientes meretrícios em que se desenvolvia, entretanto suas origens folclóricas conseguiram sobreviver devido a tradição oral. Mas como algo podia ser ao mesmo tempo marginal e sofisticado? O jazz era e é justamente isso!
Sua essência fugia dos padrões seriais da música comercial, pop, industrial. Suas raízes eram basicamente folclóricas, pois derivavam das canções de trabalho, do gospel, contudo o único produto da Revolução Industrial que inspirava o jazz decorria do blues com a simbologia da estrada de ferro que levava o homem ao céu ou ao inferno – eis as canções do Mississipi, os lamentos e os trajetos longínquos em terras do sul norte-americano na servidão escravista.
Realmente não é tão simples se compreender o jazz, se faz necessário conhecer suas várias fases, visto que suas muitas variações foram resultados de mudanças sociais (temos o Jazz swing, orquestral, Bebop, Cool, Free, fusion, etc.). Segundo o historiador Eric Hobsbawm podemos compreendê-lo:
De 1900 a 1917 – quando se tornou linguagem popular da música negra na América do norte.
De 1917 a 1929 – quando houve uma pequena expansão através das danças populares e canções.
De 1929 a 1941- com o triunfo internacional e penetração na música pop e legitimação na indústria cultural.
Hobsbowm vê o jazz não como um fenômeno em si, mas como uma música que influenciou a música comercial, popular, e fez parte da vida moderna.
O jazz é a materialização da criatividade no ato de musicar algo. Se os escravos precisavam improvisar (na língua, na subserviência, na estranha cidade) para sobreviver, não resta dúvidas hoje que a improvisação é sua maior marca. Quer tocar jazz? Improvise!
No jazz não há espaços para reproduções iguais. Foge-se do padrão, da repetição. Ele é novidade em todo instante, pois quando as vibrações começam a soar certamente surgirá algo novo. E é isso que me fascina!

Quando a música ensina a vida

Por Antognoni Misael
Segundo Aurélio, música “é a arte e ciência de combinar sons de maneira agradável aos ouvidos”; no entanto, penso que seria mais lógico dizer que ela é a arte de combinar sons e silêncio, já que o ser “agradável” a alguém pode variar de pessoa para pessoa. Gostos à parte, o que muitas vezes não sabemos é que além dos discursos, sentimentos e vibrações, a música se parece tanto com nós humanos que a sua linguagem e recursos são freqüentemente usados na vida cotidiana. Pra tirar lições dela, se faz necessário reconhecer não só seus componentes básicos: ritmo, melodia e harmonia, mas outros elementos que são determinantes para uma boa execução, por isso pensei na dinâmica e no fraseado como aspectos importantíssimos para uma peça musical bem tocada.
Vejamos o que cada item pode nos ensinar:
RITMO: é a ordem das batidas, a acentuação dos sons e das pausas de maneira ordenada.
Em nossas vidas o ritmo está presente na forma pessoal de cada um desempenhar seu andar cadencial (cada um tem seu próprio ritmo), como também na velocidade do nosso dia-dia; há pessoas cujo ritmo de vida é bastante acentuado, estressante, e nesse caso, as pausas são bem vindas, pois nelas as forças devem ser renovadas pra que a “música da vida” não pare.
MELODIA: é a sucessão de sons musicais combinados gerando um sentido, ela pode ser agradável para uns e não para outros.
Em nossas vidas, os traços melódicos têm haver como a personalidade de cada um; melodias alegres, tristes, simples, complexas, contagiantes ou tensas, representam pessoas e seus discursos, ou seja, é o “solo musical da vida” que cada uma entoa no seu cotidiano.
HARMONIA: é a combinação de sons simultâneos gerando intervalos e acordes. É o conjunto de notas vibrando ao mesmo tempo num mesmo espaço auditivo.
Em nossas vidas harmonia representa a capacidade de sociabilidade que cada um tem. É conviver em harmonia com o próximo escutando um tom que às vezes não lhe agrada ou estando num grupo de notas distintas da sua, e mesmo assim em meio a tanta dissonância, construir a unidade sonora produzindo uma bela peça musical é sinal de superação e capacidade de lidar com o diferente. Isso é que é viver em harmonia com os outros.
Quando esses três elementos estão bem resolvidos numa música, e cada instrumentista consegue dominá-los satisfatoriamente, chega-se à hora de compreender aspectos importantíssimos relacionados à execução da música (muitas vezes eles passam despercebidos até por músicos habilidosos):
DINÂMICA: é a capacidade e habilidade de lidar com as propriedades do som (altura, timbre, duração e intensidade) durante a execução de uma peça. Muitos músicos iniciantes ou inexperientes às vezes conhecem os ritmos, acordes, solos, mas não têm a mínima noção dos momentos baixos e altos da música. Às vezes isso gera um efeito egocêntrico, principalmente quando o volume de um instrumento está com a dinâmica bastante alta ofuscando o brilho harmonioso do conjunto – isso é muito comum nos bateristas “mão-de-ferro” e nos guitarristas da “santa distorção”. Essas nuanças entre o forte/fraco, alto/baixo são importantíssimas não só para a música, mas para a vida.
Em nossas vidas há momentos de baixarmos nossa voz, há momentos de até silenciarmos; já em instantes oportunos, dizer algo com o tom de voz forte, alto, pode ser super adequado como, por exemplo, reivindicar por saúde e educação, pedir por socorro, comemorar o gol do seu time ou até mesmo repreender alguém de forma sensata.
FRASEADOS: os fraseados são expressões de solo sobre três ou mais notas, podem ser entendidos também por pequenas ornamentações, arranjos, ou solos curtos. Essa linguagem musical deve ser colocada de acordo com o contexto da música: em blues, usa-se frase de blues, em baião, frase de baião, em samba, de samba, e assim deve sempre ocorrer em outros estilos.
Em nossas vidas é preciso ter a sabedoria de usarmos nossas frases da melhor maneira possível. A linguagem é algo que deve ser inteligível e contextualizada; as frases que usamos em casa são construídas sob uma ideia de intimidade, liberdade e até com excesso de sinceridade; quando se fala de ambiente de trabalho, as frases devem ser pautadas de profissionalismo, responsabilidade e alteridade. Falar uma linguagem que ninguém conhece pode deixar a coisa sem nexo algum. O apóstolo Paulo reforça a importância disso ao afirmar que é melhor falar cinco palavras que alguém entenda do que dez mil desconhecidas (I Coríntios 14:19).
Nossa vida é uma canção entoada por nossas atitudes, portanto, aprender com a música é um bom começo pra quem não quer desafinar sua própria história.

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Dia do músico (22 de novembro) – Parabéns aos músicos!!

O agir de Deus na vida secular

Por Antognoni Misael
É fácil notar que parte dos cristãos de nossa época prioriza as atividades de cunho espiritual e negligencia as obras do Espírito nas áreas ditas como “não-religiosas”. Queridos, é bom ressaltar que a ação do Espírito Santo vai além do campo espiritual abrangendo não só a vida dos cristãos, mas dos “não-cristãos” e até daqueles que se dizem inimigos de Deus. Esta ação diferenciada é chamada de Graça Comum. Determinantemente ela não serve para a salvação do homem, mas para o bom desenvolvimento da sociedade, equilíbrio da criação, servindo também como refreamento da proliferação do mal na humanidade (Gn 31.7; 2Rs 19.27-28; Rm 13.1-4). Gente, a vida neste mundo ainda é tolerável porque o Espírito Santo não permite que os homens atinjam o ápice da pecaminosidade possível. Pense nisso!
Ao ler este post de repente alguém pode se perguntar: “ainda existe algo de bom neste mundo”? Respondo: “Claro que sim”! Imagino que certamente se replicará que “o mundo jaz no maligno” (1Jo 5.19). Certo! Mas não esqueçamos que o mundo (criação) pertence a Deus (Sl 50.12), foi feito por Ele, para Ele, e nada foge do Seu controle. Saibamos que a Graça Comum do Espírito faz com que mesmo vivendo num mundo corrupto e alienado de Deus, pessoas comuns promovam boas práticas sociais, civis e naturais. Tais práticas geram benefícios para todos, inclusive para os cristãos: desde as invenções das ciências, descobertas na medicina e o desenvolvimento das artes em geral. A Bíblia relata várias passagens onde pessoas não regeneradas foram agraciadas por Deus nesse sentido (2Rs 10.29-30; Rm 2.14-15), como da mesma forma, em outro momento, o próprio Cristo mencionou que até os pecadores faziam o bem (Lc 6.33-24).

O fato de sabermos que o salário do pecado seja realmente a morte não anula o agir de Deus em derramar bênçãos naturais perante todos os seres humanos. Lembremos-nos que Ele é bom para com todos e satisfaz de benevolência a todo vivente (Sl 145.9, 15-16), faz vir a chuva sobre justos e injustos abençoado tanto a grama do salvo quanto a plantação do ímpio (Mt 5.45), é benigno até para com os ingratos e maus (Lc 6.35,36).
Em Tiago 1.17 vemos também que a Graça Comum é fonte das artes e da ciência reconhecendo “que toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das Luzes, em que não pode existir variação ou sombra de mudança”. Seria muito egoísmo de nossa parte achar que a Graça Comum é prioridade apenas dos cristãos.

Gente, não duvidem: o Espírito Santo é a única fonte de beleza e verdade, estando estas características dentro da igreja ou não, sendo vestidas de religiosidade ou não. Esta Graça Comum capacita todas as pessoas em medidas variadas, com aptidões intelectuais, talentos artísticos e dotes culturais em geral. Acredite! Não foi a toa que Deus depositou no homem a capacidade de criar fazendo com que este reflita a operação criativa do próprio Deus nas áreas afins da vida no mundo.
A Bíblia também ensina que a verdade sempre procede de Deus aonde quer que ela seja encontrada. Uma verdade não deixa de sê-la pelo fato de ser dita ou mencionada por um não-cristão. Os poetas gregos citados por Paulo não eram convertidos, porém as verdades contidas em seus poemas foram aproveitados pelo próprio apóstolo (Atos 17.28).
Amados, a Graça Comum é um fator relevantíssimo para a vida dos cristãos. Olhar a vida através desta lente divina com certeza tornará a vida secular mais agradável, apreciativa e fincada na glória de Deus (1Co 10.31). Uma música que chamamos de “secular” pode ser muito boa quando expressar sabedoria, crescimento social, político, educativo; um filme “não-evangélico” pode aguçar a boa imaginação e trazer belas lições de vida, assim como um livro secular pode trazer inúmeros ensinamentos sobre saúde, esportes, computação, direito, culinária, etc. Filipenses 4.8 é um texto bem sugestivo para que nos relacionemos com as áreas seculares de forma sadia.
Pra finalizar não esqueçamos de dois detalhes:
1) até mesmo aqueles que não são cristãos foram feitos a imagem e semelhança de Deus (Tg 3.9) cabendo-lhes também criatividades, virtudes, sabedoria, e dons.
2) não é o mundo como criação que devemos repudiar, mas o mundo caído e corrompido pelo pecado. O problema não é o mundo em si, mas o estrago que o pecado fez nele.

No mais, que Deus a cada dia nos faça reconhecer que a única diferença existente entre um cristão e um “não-cristão” é simplesmente Graça, pura Graça.

Música secular: uma abordagem liberta do senso comum evangélico

Por Antognoni Misael

Até hoje existe uma desconfiança histórica com relação à música secular – de objeto de mensagem subliminar a vaca sagrada da igreja. O secular sempre foi ultra-profano para os conservadores quando alguém admite que curte canções seculares. Parece que tudo desabou. É comum ouvir relatos de pessoas que após a conversão lançam fora suas belas coleções de rock anos 60, suas discografias de música popular brasileira (muitas vezes por sugestão e pressão da liderança eclesiástica) e já depois de regenerado, se contentam com a música chamada gospel, muitas delas de pobreza poética e de musicalidade. Seria como na pior da hipóteses trocar Roberto Carlos por J. Neto, Luiza Possi por Damares, ou Maria Rita por Cassiane…Que diferença hein?  


A Música é nada mais nada menos que a “expressão de sentimentos através de vibrações sonoras“. Ela não passa disso em seu conceito primário. No entanto, é necessário muito cuidado para não diabolizar o que seria um bom sentimento expressado ou o inverso, como é o caso de quem deliberadamente ouve e absorve discursos contrários aos valores de Deus.

Existe bastante falta de conceito por parte de muitos que criticam aqueles que  convivem com a música secular. Eu particularmente aprendi na igreja que deveria fugir dela, porém nunca fui convencido de sua total inviabilidade para vida comum. Lembro que quando cursava meu 2º grau, lia nos livros de Literatura lindos poemas de Fernando Pessoa, Castro Alves, Augusto dos Anjos, etc., já nas aulas de História ouvia canções relacionadas ao Regime Militar e vibrava por tanta criatividade vinda da parte dos compositores da época, porém, em seguida sempre recebia a duxa de água fria quando de um líder ouvia as velhas repreensões: “A luz não pode se misturar com as trevas…”, etc. Mas contradição é latente pois há aqueles, por exemplo, que criticam  o irmãozinho “fulano” porque que escuta determinada música, porém o bendito crítico é geralmente aquele cara que adora um filme de ficção (secular), ou em caso de algumas irmãs, são as que não perdem a novela das oito.

Assim como jogar futebol, assistir um filme, ir ao cinema, ouvir uma música secular não é pecado, contanto que sua mensagem não fira as verdades de Deus e que se adeque ao que Paulo falou aos Filipenses 4.8: “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, isso ocupe o vosso coração”. Existem bastantes músicas educativas, politizadas, encorajadoras e de reflexão para nossa vida comum, elas com certeza trazem no seu bojo os fundamentos cristãos. Há uma bela canção de Guilherme Arantes que diz: “eu desejo amar a todos que eu cruzar pelo meu caminho. Como sou feliz, eu quero ver feliz quem andar comigo”, e por aí vai. Muitas vezes ignoramos verdades ditas por não cristãos apenas por não se dizerem cristãos, enquanto muitas vezes ouvimos heresias nos conteúdos das músicas denominadas “gospel”. Paulo disse: tudo é lícito, mas nem tudo me convém, e essa sutil escolha entre valer a apena ou não, deve ser feita a luz da palavra – se te edifica, vai em frente, se não, então recue.

O conceito de secular é tão pouco explorado que se formos entender como aquilo que não traz em sua roupagem algo de religioso, constataremos que na própria Bíblia existe muito de “secular”, como por exemplo, o poema “secular” que Davi escreveu em homenagem a Saul e Jônatas em 2 Samuel 1.19-27, alguns provérbios que apenas tratam de educação, moral, respeito, sem aparentemente fazer alguma menção direta a Deus, muito embora em seu crivo, obviamente, permeiem os valores que são participantes da conduta correta e da verdadeira forma de ser cristão.

As doutrinas da criação, queda e redenção precisam estar muito bem definidas na vida do cristão, e se mal interpretadas, com certeza toda percepção de arte será deturpada. E é isso que precisamos fomentar em nossas igrejas: pessoas preparadas para lidar com a arte da música,  e revertê-la para contextualização do evangelho e alcance de pessoas.

Saliento que a música por si só é desprovida de caráter. Ela é um veículo de linguagem, que  pode ter inúmeras funções. A pessoa que tem o talento para música seja ele músico, intérprete ou compositor, com certeza recebeu esse presente de Deus (Tiago 1.17), tendo esta pessoa conhecido a Deus ou não. É o que chamamos de “Graça comum”. A criatividade é fonte que sai de Deus, e mesmo embora estando ela desfigurada pela herança adâmica não nos outorga abominar a sabedoria, criação e habilidade daquele que está longe de Deus. Ninguém pergunta se o dentista é crente antes de ser atendido, se o cozinheiro do restaurante é evangélico, ou se o arquiteto que construiu a casa onde se reside é um homem de Deus. E assim muitas vezes consumimos produtos de ateus, espíritas, macumbeiros, idólatras, o que não quer dizer que suas aptidões foram dadas pelo diabo. Steve Tuner em Cristianismo Criativo (2000, p.91) escreveu: “A solução é constantemente manter a queda em equilíbrio com a doutrina da criação. O mundo não está tão cheio de mal de modo que não possamos desfrutá-lo nem tão cheio de bondade de modo que possamos abrir mão de nós mesmo em favor dele”.

Não incentivo ninguém a ter contato com arte secular ou a tal “música do mundo” sem que antes conheça as doutrinas da criação, queda e redenção, mas oriento também que, além disso, que estude sobre os conceitos de arte cristã. Imagino também que seja muito difícil construir um conceito consistente a este respeito, uma vez que a indústria gospel fabrica artes medíocres em grande escala, ao mesmo tempo que nas igrejas pouco surgem espaços para palestras, debates e aulas sobre arte secular / cristã.

Entendo que crescer na graça e no conhecimento também abrange a aprender (sob a ótica da graça comum) com pessoas não crentes, sejam professores de universidades, médicos, políticos, poetas, escritores, comentaristas esportivos, geógrafos, e inclusive, com músicos através de suas canções.

Termino dizendo que muitas vezes o discurso cristão pode estar no secular sem que se perceba e vice-versa. Sendo assim, usemos as lentes da graça de Deus e de Sua palavra para que possamos aprender mais de Dele através da música sabendo apreciá-la corretamente e que principalmente utilizando-se dela para alcançar muitos perdidos.